quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Meditação de um adolescente diante da escolha de uma profissão

A natureza demarcou ao animal o campo de atividade onde ele deve se mover e ele a percorre tranqüilamente, sem procurar se afastar, sem mesmo suspeitar de uma outra. Ao homem também a divindade fixou um objetivo geral: enobrecer a humanidade e enobrecer à si mesmo. A ele de procurar os meios de atingir o objetivo, a ele de escolher na sociedade o lugar mais conveniente de onde ele possa melhor se elevar e, com ele, a sociedade.

Certo, esta escolha é um grande privilégio pois ela não foi dada às outras criaturas; mas é ao mesmo tempo um ato que pode destruir toda sua vida, desarticular todos seus projetos, e o tornar infeliz. Avaliar seriamente esta escolha é, consequentemente e seguramente, o primeiro dever do adolescente no início de sua carreira se ele não deseja abandonar ao acaso seus assuntos os mais importantes. Cada um tem diante de seus olhos um objetivo que parece grande, ao menos para si, e que o é na realidade, uma vez que é a convicção profunda, a voz mais íntima do coração que lhe diz. A divindade não deixa jamais o mortal inteiramente sem guia, ela fala com voz baixa, porém segura.

Ora, esta voz é facilmente silenciada ; o que nos entusiasmou pode ser o fruto de um instante, que o instante seguinte vai talvez aniquilar. Nossa imaginação se inflama talvez, nossos sentimentos se agitam , ilusões passam diante de nossos olhos e nós nos precipitamos em direção ao objetivo com ardor, pois a divindade, pensamos, assim designou; mas o que tínhamos apaixonadamente abraçado sobre nosso peito nos desgosta em pouco tempo, e toda a nossa existência se encontra aniquilada.

Assim, é necessário examinarmos seriamente se uma profissão nos entusiasmou realmente, se uma voz interior o aprova, ou mesmo se o entusiasmo não passa de um erro, se o que tínhamos tomado por um chamado da divindade não passou de um engano. Mas como chegar à verdade a não ser retornando às fontes de nosso entusiasmo? O grandioso resplandece, seu pequeno pedaço desperta a ambição, e a ambição pode facilmente ter provocado o entusiasmo ou o que acreditamos tê-lo sido. Mas aquele que possui a fúria da ambição, a razão não poderá mais aprisioná-lo.

Não somos chamados ao estado onde podemos brilhar mais; este estado não é aquele que exerceremos talvez durante uma longa seqüência de anos sem que sejamos..., sem que nosso zelo diminua, sem que nosso entusiasmo se resfrie, sem que terminemos por ver nossos desejos não preenchidos, nossas idéias não realizadas, por detestar a divindade e amaldiçoar os homens.

Porém, nem sempre nos é possível abraçar a profissão à qual nós nos cremos chamados pois nossas relações com a sociedade, em uma certa medida, começaram antes que nós pudéssemos determiná-la. Freqüentemente, nossa natureza física se opõe ameaçadora a nós... somente da calma podem sair as grandes e belas ações; é o único terreno onde chegam ao ponto os frutos que amadurecem... se nós escolhemos uma situação pela qual não temos o talento necessário não poderemos jamais exercê-la dignamente, cedo teremos a vergonha de constatar nossa incapacidade, e nos consideraremos um ser inútil da criação, um membro da sociedade que não pode cumprir sua vocação.

A dignidade é o que melhor eleva o homem, o que confere à sua ação, a todas as suas aspirações, uma nobreza superior que o torna invulnerável e o eleva acima da massa admirativa.

A idéia mestre que deve nos guiar na escolha de uma profissão, é o bem da humanidade e o nosso aperfeiçoamento. Seria errado crer que esses dois interesses se opõe necessariamente, que um deve fatalmente arruinar o outro [...], é somente trabalhando para o bem e a perfeição do mundo que o cerca que o homem pode atingir sua própria perfeição[...] Se ele cria somente para si mesmo ele se tornará talvez um sábio célebre, um grande sábio, um poeta distinto, mas jamais um homem completo, um homem verdadeiramente grande[...] A história chama àqueles que, agindo no interesse comum, se enobreceram.

Logo que nós tivermos escolhido a profissão que nos permitirá melhor agir pela humanidade, será um sacrifício atingido para o bem de todos. Então, longe da alegria pobre, medíocre do egoísmo, nossa felicidade será aquela de milhões de seres, nossos atos se perpetuarão silenciosos mas eternos, e os homens generosos virão chorar sobre nossas cinzas.


KARL MARX.

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